A glândula tireoide, presente em todos os animais, tem as funções de produzir, armazenar e liberar hormônios tireoidianos – triiodotironina (T3) e tiroxina (T40) – para a circulação sanguínea. O T3 é responsável pelas ações da tireoide, enquanto o T4 atua como um reservatório na circulação sanguínea para conversão em T3 conforme a necessidade metabólica. A não produção ou redução destes hormônios caracteriza o hipotireoidismo, enquanto a produção exacerbada caracteriza o hipertireoidismo.
Afecção clínica endócrina causada pela produção ineficiente de hormônios tireoidianos, resultando na diminuição da taxa metabólica. Acomete caninos de meia-idade a idosos, possuindo caráter hereditário. As raças mais predispostas são Beagle, Boxer, Borzoi, Cocker Spaniel, Golden Retrivier, Pastor de Shetland, Schnauzer gigante. Pode ser classificado em hipotireoidismo primário, secundário e terciário, conforme local afetado.
Podem ter origem dermatológica, neuromuscular, oftalmológica, metabólica, reprodutiva e cardiovascular.
Cardiovascular: animal apresenta bradicardia, ondas T invertidas e complexos QRS de baixa amplitude;
Dermatológicas: alopecia de tronco bilateral e simétrica, não pruriginosa; alopecia no plano nasal; hiperpigmentação; pelos secos e quebradiços com mudança na cor; hiperqueratose, devido à baixa síntese de PGE2 e ácidos graxos cutâneos; “cauda de rato”; mixedema e expressão “trágica”, devido depósito de ácido hialurônico e mucopolissacarídeos na derme; comedos, descamação excessiva, untuosidade, piodermite recidivante e otite externa recidivante.
Metabólicas: letargia, intolerância ao frio e ganho de peso sem aumentar consumo de alimento;
Neuromuscular: acontecem devido acúmulo de mucopolissacarídeos ou após desenvolvimento de aterosclerose cerebral ou hiperlipidemia. Apresentam ataxia, fraqueza muscular, claudicação, andar em círculos, convulsões; megaesôfago, devido à degeneração axonal; desmielinização segmentar e hipercolesterolemia;
Oftalmológica: lipidose corneal, ceratoconjuntivite seca e atrofia repentina de retina;
Reprodutiva: anestro prolongado, aborto, ausência de cio, ciclo estral silencioso ou fraco, parto prolongado, galactorreia e ginecomastia;
Coma mixedematoso: raro. Animal apresenta estado mental alterado, fraqueza muscular, hipotermia, bradicardia, estupor e coma.
Baseado no histórico, sinais clínicos, exames laboratoriais, exame de imagem e dosagem hormonal
Hemograma: anemia normocítica, normocrômica, não regenerativa; plaquetas normais ou aumentadas;
Perfil bioquímico: hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia; aumento discreto da FA e ALT, por esteatose hepática; colestase, miopatia.
Ultrassonografia: hepatomegalia, lama biliar densa (mucocele); tireoide com forma e contorno glandular irregular, diminuição significativa no tamanho e menor ecogenicidade em relação às musculatura;
A avaliação da função da glândula tiroide é realizada através da mensuração sérica de T4 (tiroxina), ligado a proteínas (T4 total – TT4) ou na forma livre (LT4), além da concentração sérica de TSH.
Concentração de T4 total (TT4): é utilizado como teste de triagem e avalia a fração ligada à proteína com a fração livre. Possui alta sensibilidade e especificidade. Um valor abaixo das referências não classifica um hipotireoidismo, pois o TT4 pode estar diminuído no animal devido doença de origem não tireoidiana ou secundária à administração de fármacos.
Concentração de T4 livre (LT4): possui alta sensibilidade e especificidade. Avalia fração não ligada à proteína. Apenas o hormônio livre pode entrar nas células e se ligar aos receptores, sendo o método mais preciso para detectar hipotireoidismo.
Concentração de TSH canino (cTSH): possui baixa sensibilidade, é um teste confirmatório quando utilizado em conjunto com os testes de TT4 ou LT4 por elevar a especificidade. O cTSH é específico para diagnóstico de hipotireoidismo se TT4 ou LT4 estiverem reduzidos.
síndrome do animal eutireoideo. Referente à supressão das concentrações séricas do hormônio tireoidiano em resposta a doenças concomitantes. Uma redução de T4 pode resultar na diminuição da secreção de TSH, sem animal ter hipotireoidismo, por isso é importante o tratamento da doença primária, pois uma vez que esta se resolve, as concentrações hormonais voltam ao normal.
Autora: Iolanda Cândido
Fonte:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2012001000015
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/119150/freitas_ma_tcc_botfmvz.pdf?sequence=1